Tenho tanto medo de mudanças, que sempre procuro novos métodos, novas ferramentas para manter meu mundo particular intocado e imutável.
Não aprendi a procurar soluções, ou ao menos um consolo pelas aflições da vida, no abrigo de um abraço. Porque não reconheço o outro como ser igual a mim. Tão pouco dou valor à existência alheia.
A tristeza e a depressão a qual padeço, é mais que merecida, afinal minha alma deformada não pode se satisfazer nas suas muitas cobiças, que exigiu do meu ser exterior como oferendas, ao meu Ídolo interior.
Se preciso de salvação, meus braços deverá produzi-la, afinal só me deleito no que mereço, graça não reconheço, sim! "eu"sou dono de mim. E tudo que tenho é fruto do meu trabalho. Por isso não tenho nada, senão o inferno como habitação da minha alma corrompida.
Sou escravo da minha pseudo-liberdade, fruto da minha mente insana, que engana a si própria, no vislumbre de um futuro próspero que jamais será real.
Por onde passo emano o cheiro podre da corrupção, com a qual sou corrompido e corrompo. Como um buraco negro consumo tudo que deveria partilhar, e como um furacão espalho aos quatro ventos toda maldade que as trevas em mim produz.
Sou desumano, rico de miséria e farto de uma avareza sem fim, que consome tudo e todos, e só aumenta a fome por mais dessa loucura egoísta.
Sou idolatra de mim mesmo, antes de idolatrar qualquer outra coisa.
Sim! Estou apodrecido, e apodrecendo dentro de mim.
Aí de mim se continuar sendo eu mesmo...
Não acreditamos que Deus possa transformar delinquentes em Cristãos, quando não vemos mudanças em nossa própria vida, quando dizemos com os lábios que somos convertidos, mas no fundo duvidamos da própria conversão.
"Se Deus não mudou nem a mim, vai mudar este outro que tenho como pior que eu?" Pensa minha alma arrogante e soberba. Pobre de mim, ainda não percebi, e talvez jamais perceba que o deus da minha vida é nada menos que um usurpador corrupto chamado eu mesmo.
Abomino quando me dizem estas coisas, não tenho prazer na verdade, tão pouco na realidade sóbria que vive a minha alma apodrecida.
A minha vida é um baile de máscaras, ferramentas que me fazem adaptar ao ambiente.
A maldade está para mim, como a carniça está para os corvos-banquete. Mas na falta de um corpo podre, me alimento dos grãos sadios. Sei me adaptar.
Abomino o espelho, porque não gosto de ver deformações, por isso não me relaciono com outros
Ah sim!! Aí de mim se continuar sendo eu.